Ensino de Filosofia e Teatro

MATERIAIS UTILIZADOS NAS OFICINAS




Citações utilizadas na oficina sobre Amor
(Jogo Teatral de improvisação com essas frases/pensamentos)
(11 de outubro de 2011)

"Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e a outra metade a deixar os que amamos."Fonte - Monte de Pedras Autor – Victor Hugo

"Os olhos são os intérpretes do coração, mas só os interessados entendem essa linguagem."Autor – Blaise Pascal

"O amor não tem idade; está sempre a nascer."Autor – Blaise Pascal

"Apenas amamos aquilo que não possuímos por completo."Fonte - A Prisioneira.  Autor – Marcel Proust

"Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade."Autor – Albert Camus

"O homem tem duas faces: não pode amar ninguém, se não se amar a si próprio.” Fonte - A Queda. Autor – Albert Camus

"Há vários motivos para não amar uma pessoa, e um só para amá-la; este prevalece."Autor – Carlos Drummond de Andrade 

"Só pelo amor o homem se realiza plenamente."Autor - Platão 

"O homem mais miserável, mesmo que julgue não mais amar, conserva ainda o poder de amar."Autor - Bernanos , Georges

O amor não se define; sente-se."- Séneca

"Saber amar não é amar. Amar não é saber."Autor - Jouhandeau , Marcel

"Amor e desejo são coisas diferentes. Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja se ama."Autor - Cervantes , Miguel

"É certo, afinal de contas, que neste mundo nada nos torna necessários a não ser o amor."Fonte – Werther Autor - Goethe.

"O amor triunfa sobre tudo, cedamos também nós ao amor."Fonte – Bucólicas. Autor - Virgílio

"Não há ninguém, mesmo sem cultura, que não se torne poeta quando o Amor toma conta dele."Fonte - O Banquete.  Autor - Platão

"Dizer que se vai amar uma pessoa a vida toda é como dizer que uma vela continuará a queimar enquanto vivermos.”
 Fonte - Sonata a Kreutzer Autor - Tolstoi.

Ser amado é consumir-se na chama. Amar é luzir com uma luz inesgotável. Ser amado é passar; amar é durar."Fonte - Cadernos de Malte Laurids Brigge. Autor - Rilke.

Todo o objecto amado é o centro de um paraíso."Fonte – Fragmentos.  Autor - Novalis , Friedrich

"Só o amor e a arte tornam a existência tolerável."Fonte - A Servidão Humana. Autor - Maugham , William

"Amar bem é amar loucamente."Fonte - Poeta Trágico. Autor - Suarés , André

Quando nos sentimos dispostos a amar queremos que nos amem, sem pensar que essa exigência afasta o génio do amor."Fonte - Correspondência de Goethe Com uma Criança. Autor - Brentano , Bettina

"Triste é o homem que só ama as coisas quando as perde."Fonte – Baol. Autor - Benni , Stefano

"O amor é a única flor que brota e cresce sem a ajuda das estações."Autor - Gibran , Khalil

"Nascemos para amar. O amor é o princípio da existência e o seu único fim."Autor - Disraeli , Benjamin

"O prazer do amor dura apenas um instante, os desgostos do amor duram toda a vida."Autor - Florian , Jean-Pierre

"O amor é a capacidade de perceber o semelhante no dessemelhante."Fonte - Minima moralia, III. Autor - Adorno , Theodore

Somente através do amor o homem se pode libertar de si mesmo."Fonte – Diários. Autor - Hebbel , Christian

"O amor é um grande mestre, ensina de uma só vez."Fonte - Le MenteurAutor - Corneille , Pierre

"Se te amas a ti mesmo, ama os outros do mesmo modo. Enquanto amares uma única pessoa menos do que a ti mesmo, não te conseguirás amar a ti mesmo."Fonte - Sermão: Qui audit me.                                    Autor - Eckhart , Meister

"Sem amor por si mesmo, o amor pelos outros também não é possível. O ódio por si mesmo é exatamente idêntico ao flagrante egoísmo e, no final, conduz ao mesmo isolamento cruel e ao mesmo desespero."Fonte - O Lobo das Estepes. Autor - Hesse , Hermann

"Não existem amores feios nem prisões belas."Fonte - Notables Enseignements, adages et proverbes. Autor - Gringore , Pierre

"Temer o amor é temer a vida, e quem teme a vida já está três quartos morto."Fonte - Matrimónio e Moral. Autor - Russell , Bertrand

"Contigo não posso viver, nem sem ti."Fonte – Epigramas. Autor - Marcial

A medicina é o remédio para todas as dores humanas, / apenas o amor é um mal que não tem cura."Fonte – Elegias. Autor - Propércio

"O amor não pode coexistir com o temor."Fonte - Cartas a Lucílio.                    Autor - Séneca

"A igualdade é o vínculo mais sólido do amor."Fonte - Minna von Barnhelm. Autor - Lessing , Gotthold

"Apaixonar-se é a receita que os velhos usam contra o tempo; e há tanta virtude nesse método, que voltam a ser jovens enquanto o praticam."Fonte – Lettere. Autor - Aretino , Pietro

"Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito."Fonte - A Ópera dos Três Vinténs. Autor - Brecht , Bertolt

"Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre."Fonte – Apontamentos. Autor - Tchekhov , Anton

"O amor? Começa com grandes palavras, continua com palavrinhas, termina com palavrões."Fonte - Petite Pluie. Autor - Pailleron , Édouard

"No amor, a autoridade é por direito daquele que ama menos."Fonte - Dix épines pour une fleur. Autor - Houdetot , E.

"Entre os seres humanos, mesmo se intimamente unidos, permanece sempre aberto um abismo que apenas o amor pode superar, e mesmo assim somente como uma passagem de emergência."Fonte – Knulp.     Autor - Hesse , Hermann

"O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram."Autor - La Rochefoucauld , François






PENSANDO O AMOR

A Filosofia é ela mesma uma espécie de amor, um amor que pensa. O amor é o mais celebrado dos afetos, tanto na poesia, no teatro, como na música. Entretanto, parece que muito pensamento destrói os sentimentos (isso que indica uma certa incompatibilidade entre pensamento e amor). Será possível celebrar o amor através do pensamento? A noção de amor é uma questão filosófica fundamental e diz respeito ao outro. Pensar o amor implica refletir sobre a nossa relação com a alteridade e, mais radicalmente, sobre a nossa relação com a alteridade que há em nós mesmos. Que é o amor? O primeiro impulso é responder essa questão com exemplos: há o amor passional, mais ligado ao desejo sexual; há o amor condicionado pelo sangue em comum, o amor do pai ou da mãe pelo filho ou do irmão pelo irmão; há ainda a amizade, que não é uma ligação sensual ou familiar, é uma afeição pelo próximo conhecido; e há finalmente a caridade, o amor pelo próximo desconhecido. Esses vários tipos de amor parecem se organizar em uma hierarquia não explícita: do mais sensível para o mais espiritualizado, do mais egoísta e possessivo para o mais desprendido e solitário, do mais natural para o mais civilizado. A desconfiança velada contra o corpo e seus afetos rege a classificação dos vários tipos de amor. O que há de comum em todos esses exemplos? Por ser um sentimento, o amor parece nada compartilhar com o pensamento, chegando mesmo a ser visto como o outro ou o diferente da razão. Apesar disso, o amor é um sentimento diferente dos outros. Embora esteja inexoravelmente ligado à dimensão do corpo e de seus afetos, o amor é visto também como a possibilidade mais extraordinária do ser humano se relacionar com seu outro. A excelência do amor advém da sua força de instaurar unificação e harmonia entre os homens. Por causa desse suposto poder, o amor pertence à zona limite entre sensibilidade e racionalidade, entre natureza e cultura, entre sagrado e profano. O amor, considerado como desejo de fusão com a alteridade, encontra em Hegel seu maior defensor. A noção de amor tem um papel central na sua filosofia, especialmente nos textos de juventude. Para Hegel, o amor é o impulso inerente do ser vivente em direção à unificação com o outro. Os amantes formam um todo, em que cada um é igual no poder: “Somente no amor somos um com o objeto, sem que ele domine ou seja dominado”, diz ele em uma anotação do verão de 1797 (Escritos da juventude, p. 242). O amor, do jeito que Hegel compreende, é uma unidade equilibrada de opostos e presta um serviço inestimável na história: estabelecer comunhão, comunidade e comunicação entre os seres humanos. O jovem Hegel esperava que o amor fosse a solução para todos os problemas éticos e políticos. Mas o amor também tinha seu inconveniente. O amor podia ser também a raiz de todos os problemas, pois quem ama, ama sem razão; tendia a ser possessivo e, por fim, deixaria de amar também sem razão. Não é possível fazer uma lei que obrigue alguém a amar, nem que impeça o fim do amor. Por se tratar de um sentimento, o amor apresenta-se como algo finito, quer dizer, passageiro, acidental e arbitrário. A dialética hegeliana tinha como desafio lidar com essa ambigüidade do amor. Como escapar desse dilema? O Hegel da maturidade acaba substituindo a aposta no amor pela aposta na razão: posso reconhecer o outro como sujeito livre e independente, se ele fizer o mesmo comigo. O reconhecimento racional recíproco será então a única maneira efetiva de superar as grandes cisões do homem, frente à sociedade e à si próprio. A vantagem da comunidade instaurada pela razão é que ela é permanente, absoluta, universal. A razão produz contratos e instituições, tais como o casamento, a família e o Estado, que seguem leis determinadas, evitando a arbitrariedade, a exclusividade e a volubilidade típicas do amor. Contudo, a decepção hegeliana não precisa ser interpretada como um sinal da imperfeição do amor, mas muito mais como uma lição de que haja talvez um excesso de expectativa ao exigir algo que ele não pode dar, a não ser que seja domesticado ou explorado por normas e regras. Talvez o amor, na sua imponderabilidade, exponha de forma mais radical a verdadeira face do homem, um ser que existe de modo finito, quer dizer, de um jeito imprevisível, sensual, temporal e plural.
Referência:

FEITOSA, Charles. Explicando a Filosofia com Arte. Ediouro. Rio de Janeiro. 2004. 





POR QUE FILOSOFIA?
Marilena Chauí
Conhece-te a ti mesmo...

Quem viu o filme Matrix – antes que se tornasse o primeiro de uma série – há de se lembrar da cena em que o herói Neo é levado pelo guia Morfeu para ouvir o oráculo.
Que é um oráculo? A palavra oráculo possui dois significados principais, que aparecem nas expressões “consultar um oráculo” e “receber um oráculo”. No primeiro caso, significa “uma mensagem misteriosa” enviada por um deus como reposta a uma indagação feita por algum humano; é uma revelação divina que precisa ser decifrada e interpretada. No segundo, significa “uma pessoa especial”, que recebe a mensagem divina e a transmite para quem enviou a pergunta à divindade, deixando que o interrogante decifre e interprete a resposta recebida. Entre os gregos antigos, essa pessoa especial costumava ser uma mulher e era chamada sibila.
Em Matrix, aparece a sibila, uma mulher que recebeu o oráculo (isto é, a mensagem) e que é também o oráculo (ou seja, a transmissora da mensagem). Essa mulher pergunta a Neo se ele leu o que está escrito sobre a porta de entrada da casa em que acabou de entrar. Ele diz que não. Ela então lê para ele as palavras, explicando-lhe que são de uma língua há muito desaparecida, o latim. O que está escrito? Nosce te ipsum. O que significa? “Conhece-te a ti mesmo.” O oráculo diz a Neo que ele – e somente ele – poderá saber se é ou não aquele que vai livrar o mundo do poder de Matrix e, portanto, somente conhecendo a si mesmo ele terá a reposta.
Poucas pessoas que viram o filme compreenderam exatamente o significado dessa cena, pois ela é a representação, no futuro, de um acontecimento do passado, ocorrido há 23 séculos, na Grécia.
Havia na Grécia, na cidade de Delfos, um santuário dedicado ao deus Apolo, deus da luz, da razão e do conhecimento verdadeiro, o patrono da sabedoria. Sobre o portal de entrada desse santuário estava escrita a grande mensagem do deus ou o principal oráculo de Apolo: “Conhece-te a ti mesmo.” Um ateniense, chamado Sócrates, foi ao santuário consultar o oráculo, pois em Atenas, onde morava, muitos diziam que ele era um sábio e ele desejava saber o que significava ser um sábio e se ele poderia ser chamado de sábio. O oráculo, que era uma mulher, perguntou-lhe: “O que você sabe?”. Ele respondeu: “Só sei que nada sei.” Ao que o oráculo disse: “Sócrates é o mais sábio de todos os homens, pois é o único que sabe que não sabe.” Sócrates, como todos sabem, é o patrono da Filosofia.

Neo e a Matrix
Se voltarmos ao filme Matrix, podemos perguntar por que foi feito o paralelo entre Neo e Sócrates.
Comecemos pelo nome das duas personagens masculinas principais: Neo e Morfeu. Esses nomes são gregos. Neo significa “novo” ou “renovado” e, quando dito de alguém, significa “jovem na força e no ardor da juventude.” Morfeu pertence à mitologia grega: era o nome de um espírito, filho do Sono e da Noite, que possuía asas e era capaz, num único instante, de voar em absoluto silêncio para as extremidades do mundo. Esvoaçando sobre um ser humano ou pousando levemente sobre sua cabeça, tocando-o com uma papoula vermelha, tinha o poder não só de fazê-lo adormecer e sonhar mas também de aparecer-lhe no sonho, tomando forma humana. É dessa maneira que, no filme, Morfeu se comunica pela primeira vez com Neo, que desperta assustado com o ruído de uma mensagem na tela de seu computador. E, no primeiro encontro de ambos, Morfeu surpreende Neo por sua extrema velocidade, por ser capaz de voar e por parecer saber tudo a respeito desse jovem que não o conhece. Várias vezes, Morfeu pergunta a Neo se ele tem sempre a impressão de estar dormindo e sonhando, como se nunca tivesse certeza de estar realmente desperto. Essa pergunta deixa de ser feita a partir do momento em que, entre uma pílula azul e uma vermelha oferecidas por Morfeu, Neo escolhe ingerir a vermelha ( como a papoula da mitologia), que o fará ver a realidade. É Morfeu quem lhe mostra a Matrix, fazendo-o compreender que passou a vida inteira sem saber se estava desperto ou se dormia e sonhava porque, realmente, esteve sempre dormindo e sonhando.
O que é a Matrix? Essa palavra é latina. Deriva de mater, que quer dizer “mãe”. Em latim, matrix é o órgão das fêmeas dos mamíferos onde o embrião e o feto se desenvolvem; é o útero. Na linguagem técnica, a matriz é o molde para fundição de uma peça; o circuito de codificadores e decodificadores das cores primárias (para produzir imagens na televisão) e dos sons (nos discos, fitas e filmes); e, na informática, é a rede de guias de entradas e saídas de elementos lógicos dispostos em determinadas intersecções.
No filme, a Matrix tem todos esses sentidos: ela é, ao mesmo tempo, um útero universal onde estão todos os seres humanos cuja vida real é “uterina” e cuja vida imaginária é forjada pelos circuitos de codificadores e decodificadores de cores e sons e pelas redes de guias de entrada e saída de sinais lógicos.
Qual é o poder da Matrix? Usar e controlar a inteligência humana para dominar o mundo, criando uma realidade virtual ou falsa realidade na qual todos acreditam. A Matrix é o feitiço virado contra o feiticeiro: criada pela inteligência humana, a Matrix é inteligência virtual que destrói a inteligência que a criou porque só subsiste sugando o sistema nervoso central dos humanos.
Ante que a palavra computador fosse usada correntemente, quando só havia as enormes máquinas militares e de grandes empresas, falava-se em “cérebro eletrônico”. Por quê? Porque se tratava de um objeto técnico muito diferente de todos até então conhecidos pela humanidade. De fato, os objetos técnicos tradicionais ampliavam a força física dos seres humanos (o microscópio e o telescópio aumentavam o limite dos olhos; o navio, o automóvel e o avião aumentavam o alcance dos pés humanos; a alavanca, a polia, a chave de fenda, o martelo aumentavam a força das mãos humanas; e assim por diante). Em contrapartida, “o cérebro eletrônico” ou computador amplia e mesmo substitui as capacidades mentais ou intelectuais dos seres humanos. A Matrix é o computador gigantesco que escraviza os homens, usando a mente deles para controlar as próprias percepções, sentimentos e pensamentos, fazendo-os crer que o aparente é real.
Vencer o poder da Matrix é destruir a aparência, restaurar a realidade e assegurar que os seres humanos possam perceber e compreender o mundo verdadeiro e viver realmente nele. Todos os combates realizados por Neo e seus companheiros são combates cerebrais e do sistema nervoso, isto é, são combates mentais entre os centros de sensação, percepção e pensamento humanos e os centros artificiais da Matrix. Ou seja, as armas e tiroteios que aparecem na tela são pura ilusão, não existem, pois o combate não físico e sim mental.

Neo e Sócrates
Por que as personagens do filme afirmam que Neo é “o escolhido”? Por que eles estão seguros de que ele será capaz de realizar o combate final e vencer a Matrix?
Porque ele era um pirata eletrônico, isto é, alguém capaz de invadir programas, decifrar códigos e mensagens, mas, sobretudo, porque ele também era um criador de programas de realidade virtual, um perito capaz de rivalizar com a própria Matrix e competir com ela. Por Ter um poder semelhante ao dela, Neo sempre deconfiou de que a realidade não era exatamente tal como se apresentava. Sempre teve dúvidas quanto à realidade percebida e secretamente questionava o que era a Matrix. Essa interrogação o levou a vasculhar os circuitos internos da máquina (tanto assim que começou a ser perseguido por ela como alguém perigoso) e foram suas incursões secretas que o fizeram ser descoberto por Morfeu.
Por que Sócrates é considerado o “patrono da Filosofia”? Porque jamais se contentou com as opiniões estabelecidas, com os preconceitos de sua sociedade, com as crenças não questionadas de seus conterrâneos. Ele costumava dizer que era impelido por espírito interior (como Morfeu instigando Neo) que o levava a desconfiar das aparências e procurar a realidade verdadeira de todas as coisas.
Sócrates andava pelas ruas de Atenas fazendo aos atenienses algumas perguntas: http://www.cefetgo.br/pensar/img/blank.gif “O que é isso em que você acredita?”, O que é isso que você está fazendo?”. Os atenienses achavam, por exemplo, que sabiam o que era justiça. Sócrates lhes fazia perguntas de tal maneira sobre a justiça que, embaraçados e confusos, chegavam à conclusão de que não sabiam o que ela significava. Os atenienses acreditavam que sabiam o que significava a coragem. Os atenienses acreditavam também que sabiam o que eram a bondade, a beleza, a verdade, mas um prolongado diálogo com Sócrates os fazia perceber que não sabiam o que era aquilo em que acreditavam.
A pergunta “O que é?” era o questionamento sobre a realidade essencial e profunda de uma coisa para além das aparências e contra as aparências. Com essa pergunta, Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença entre parecer e ser, entre mera crença ou opinião e verdade.
Sócrates era filho de uma parteira. Ele dizia que sua mãe ajudava o nascimento dos corpos e que ele era um parteiro, mas não de corpos e sim de almas. Assim cimo sua mãe lidava com a matrix corporal, ele lidava com a matrix mental, auxiliando as mentes a libertar-se das aparências e buscar a verdade.
Como os de Neo, os combates socráticos eram também combates mentais ou de pensamento. E enfureceram de tal maneira os poderosos de Atenas que Sócrates foi condenado à morte, acusado de espalhar dúvidas sobre as idéias e os valores atenienses, corrompendo a juventude.
O paralelo entre Neo e Sócrates não se encontra apenas no fato de que ambos são instigados por “espíritos” que os fazem desconfiar das aparências nem apenas pelo encontro com um oráculo e o “Conhece-te a ti mesmo” e nem apenas porque ambos lidam com matrizes. Podemos encontrá-lo também ao comparar a trajetória de Neo até o combate final da Matrix e em uma das mais célebres e famosas passagens de um escrito de um discípulo de Sócrates, o filósofo Platão. Essa passagem encontra-se numa obra intitulada A República e chama-se “O mito da caverna” (assista aos vídeos e entenda este mito – observação do professor).
O que é a caverna? O mundo das aparências em que vivemos. Que são as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. Que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A Filosofia.




Introdução à História da Filosofia – A trágica história de Sócrates.

Sócrates foi o pioneiro do que atualmente se define como Filosofia Ocidental. Nascido em Atenas, por volta de 470 ou 469 a.C., seguiu os passos do pai, o escultor Sofrônico, ao estudar seu ofício, mas logo depois se devotou completamente ao caminho filosófico, sem dele esperar nenhum retorno financeiro, apesar da precariedade de sua posição social. Seu trabalho seria marcado profundamente pelos textos de Anaxágoras, outro célebre filósofo grego.
No início, Sócrates caminhou pelas mesmas veredas dos sofistas, mas ao retomar seus princípios ele os universalizou, empreendendo a jornada típica do pensamento grego. Suas pesquisas iniciais giraram em torno do núcleo da alma humana. Até hoje este filósofo é sinônimo de integridade moral e sabedoria, pois sempre agiu com ética, responsabilidade, e tornou-se padrão de perfeita cidadania.
Ele desprezava a política e não se adaptava à vida pública, embora tenha exercido algumas funções no quadro político, inclusive como soldado. Seu método filosófico ideal era o diálogo, através do qual ele se comunicava da melhor forma possível com seus contemporâneos, no esforço de transmitir seus conhecimentos para os cidadãos gregos. Além de legar ao mundo sua sabedoria sem par, ele também formou dois discípulos fundamentais para a perpetuação e desenvolvimento de seus ensinamentos – Platão e Xenofontes -, embora não tenha deixado por escrito o fruto de suas pregações.
Casado com Xantipa, nunca priorizou sua família, sempre entregue ao exercício dos dons de que era dotado. Sua essência crítica e justa o levava a crer que tinha uma importante missão, a de multiplicar seres igualmente dotados de sabedoria, probidade, moderação. Este caminho o levaria a se chocar com a cúpula dos governantes, na qual conquistaria inimigos e insatisfação. A contundência de sua fala, o rigor de sua personalidade, seu viés crítico e mordaz, suas idéias muitas vezes opostas à estrutura social vigente e o método educativo de que se valia, geraram-lhe antagonistas no seio da estrutura política que então dominava a Grécia.
O comportamento de Sócrates desencadeou em sua prisão, acusado por Mileto, Anito e Licon, de perverter a juventude e renegar os deuses cultuados pelos gregos, trocando-os por outros. Recebendo a oportunidade de advogar a seu favor, diante do tribunal e dos homens, ele se recusou, pois não pretendia renunciar ao que acreditava e ao que pregava a seus conterrâneos. Ele preferia ser condenado pela justiça terrena e preservar, diante da imortalidade, a verdade de sua alma. Assim, optou pela morte, decretada por seus juízes, através do voto da maioria.
Mesmo diante da chance de fugir, arquitetada por seu seguidor Criton, com a complacência da justiça grega, ele recuou, pois não desejava ferir as leis de seu país. Ao esperar a execução de sua sentença, prorrogada por um mês – graças a uma lei que não permitia o cumprimento desta pena enquanto um navio empreendesse uma jornada até Delos, oferecida em cumprimento de um voto -, preparou-se psicologicamente para esta viagem além-túmulo, em conversas espiritualizadas com seus amigos.
Após ter bebido calmamente seu cálice de cicuta, veneno mortal, ele teria dito “devemos um galo a Esculápio”, pois acreditava que o suposto deus da Medicina o tinha libertado da enfermidade conhecida como ‘vida’, liberando-o para a morte. Desta forma ele partiu em 399 a.C. aos 71 anos.
(Oficina de Filosofia e Teatro – Professores Everton Nogueira e Lorena Miranda)

  




Tragédia: uma breve caracterização. 
A tragédia  tem sua origem no mesmo contexto em que surgiu o teatro, quando os rituais primitivos eram o elo entre os homens e seus deuses. Esses rituais eram realizados em forma de catarse, onde todos os praticantes se envolviam no transe sem distinção de papéis. Na medida em que os rituais primitivos vão se estilizando e tornando-se litúrgicos, vai surgindo uma hierarquia, indispensável para a organização dos cultos aos deuses e em se tratando de teatro ao deus Dionísio. Esta hierarquização vai criando os papéis dos sacerdotes e celebrantes dos cultos, surgindo nesse processo pessoas centralizadoras do “culto” e as participantes do mesmo, dando início aos elementos atores e público. A tragédia surge juntamente com a comédia, no teatro grego, sendo que a primeira possuía um caráter nobre dentro das comemorações ao deus da fertilidade, capturava a essência humana e a sua relação com os sentimentos profundos de amor, ódio, medo, traição, etc., enquanto que a comédia surgiu das canções fálicas e tratava de assuntos do cotidiano, da vida comum dos homens. Nas dionisíacas, festas em homenagem ao deus Dionísio, havia concursos de tragédias, cujo prêmio para o vencedor era uma cabra. Acredita-se que a origem da palavra tragédia tenha vindo de “tragos”, que em grego significa cabra ou bode, animal que era sacrificado para o ritual dionisíaco. Há outra possibilidade sobre sua origem, que poderia ter surgido da palavra “tragoi”, que em grego significa adoradores ou seguidores de Dionísio.
O filósofo Aristóteles, em sua “Arte poética”, organiza a tragédia em diferentes elementos que tem como finalidade a purgação de emoções como a compaixão e o terror. Inicialmente apresenta o personagem (ethos) com elementos estranhos e indesejáveis, para que no decorrer da apresentação, ele venha gradativamente passando por situações catastróficas, não alcançando seus objetivos, gerando no público uma identificação e por fim o efeito de catarse. Aristóteles entende que a tragédia precisa ser um espetáculo belo, onde se reúna o canto (melopéia, composição melódica), a harmonia e o ritmo. Ele qualifica a tragédia em seis elementos constitutivos, sendo elas a fábula (ação ou enredo), o personagem (ethos, caráter), a elocução ou dicção, o pensamento (dianóia), o espetáculo em cena, e o canto (melopéia). Porém o seu modelo de estrutura da tragédia inicia com o “prólogo” e segue com os “párodos, “episódio”, “estásimo” e por fim o “êxodo”“.
A evolução cênica da apresentação de uma tragédia começa quando os personagens são apresentados com seus “caracteres”, sua forma de agir e sua “dianóia”, a forma do seu pensar que irá gerar determinadas ações. Em seguida o espetáculo precisa fazer com que o público se identifique com os personagens, gerando a “harmatia”, que é a impureza e a falha de caráter do personagem, característica própria do ser humano comum. Esta harmatia é a causadora da “empatia”, que é a relação de comunicação entre o ator e o público, mas em se tratando de tragédia não pode haver calmaria, então entra em cena a “peripécia”, transformando de forma repentina o destino do personagem, fazendo-o agonizar em sua existência. Este personagem central, que costumava ser o corifeu, líder do coro, possui a estratégia da “anagnorisis”, onde discursa pelo reconhecimento da sua própria falha, aceita e confessa seu erro, buscando a sua redenção, mas o sistema trágico aristotélico não para por aí, é preciso a “catástrofe”, o desmoronar de toda a estrutura ethos, o final terrível próprio de uma tragédia. Por fim é nesta evolução que o público realiza a sua “catarse”, a purificação da harmatia apresentada no início do espetáculo trágico. Na Grécia do século V a.C. acreditava-se que ao assistir as apresentações das tragédias, saia-se do teatro purificado e transformado. Os tragediógrafos mais conhecidos do período clássico são Ésquilo, Sófocles e Eurípedes. Suas obras são apresentadas até hoje. A tragédia influenciou os códigos teatrais até o período do “classicismo francês”, que após este momento o drama, e o melodrama, começa a se desenvolver. Atualmente, quando se refere ao termo tragédias clássicas, busca-se indicar àquelas realizadas nos teatros grego e romano, e as tragédias neoclássicas são as obras de períodos “recentes” que foram buscar referências nas tragédias clássicas.
Oficina de Filosofia e Teatro / Pibid Filosofia-UFSM / Professor Everton Nogueira e professora Lorena Miranda.






Proposta de atividade do grupo Filosofia e Teatro

Tema: moral
Objetivos: abordar filosoficamente questões referentes às ações humanas, a partir da doutrina moral kantiana, bem como, desenvolver técnicas teatrais que possibilitem aos estudantes demonstrar os conteúdos problematizados nas oficinas.
Habilidades e competências a serem desenvolvidas: o intento é de que, ao termino das oficinas, os estudantes desenvolvam algumas competências básicas da atividade filosófica e teatral.
Desenvolvimento das habilidades procedimentais: o intento é de que, ao término da unidade, os alunos tenham capacidade de representar, a partir da perspectiva teatral trabalhada, esquetes que abordem problemas filosóficos relacionado com o tema proposto. 
Desenvolvimento dos conteúdos conceituais: o intento é de que os alunos possam reconhecer como cada conceito trabalhado (boa vontade, dever, máximas morais, imperativos categóricos e hipotéticos) se relaciona com o nosso cotidiano.
Desenvolvimento dos conteúdos atitudinais: entendemos que uma das atitudes filosóficas a serem estimuladas junto aos alunos são comportamentos como saber ouvir, respeitar e responder às ideias e argumentos alheios e aceitar que suas ideias e argumentos sejam discutidos e avaliados pelos outros.
Metodologia: 1° momento – exercício de relaxamento e percepção corporal
                        2° momento – debate a cerca da problemática apresentada pelo autor
3° momento – montagem e encenação de esquete sobre os problemas identificados e novo debate.
 1º oficina:  
Tema: liberdade
Objetivo: abordar o tema da liberdade a partir da perspectiva sartreana.
Metodologia: 1° momento – exercícios e jogos teatrais com a construção de uma imagem corporal da liberdade a partir da compreensão do que ela significa para cada aluno;
                          2° momento – inserção dos conceitos fundamentais para a compreensão da tese do autor;
                           3° momento – montagem e encenação de esquete sobre o dilema apresentado por Sartre.
  4° momento – novos debates e problematizações a cerca do tema;
                          5° momento – montagem de novo esquete com releitura do dilema encenado anteriormente.
Resultados atingidos: montagem de cenas e debates sobre as principais ideias desenvolvidas nas oficinas.
2º oficina:
Tema: respeito 
Objetivo: problematizar a respeito das ações humanas a partir da opinião dos alunos
Metodologia: 
1º momento: discutir com os alunos, cenas do cotidiano em que percebessem as ações que considerassem uma boa ou má ação. 
                        2º momento: realização de uma esquete com a cena descrita pelos alunos.
                        3º momento: realização de uma esquete em que os alunos representam sua resposta ao problema verificado por eles. 
Resultados: realização das esquetes denominadas O rouboA morte do mendigo
3º oficina:
Tema: moral
Objetivo: abordar o tema a partir da perspectiva kantiana.
Metodologia: 1° momento – inserção dos conceitos fundamentais para a compreensão da tese do autor;
                        2° momento – montagem e encenação da esquete sobre os exemplos encontrados na obra do autor.
3° momento – novos debates e problematizações a cerca do tema;
                        4° momento – realização de nova esquete com a releitura dos alunos, sobre os exemplos.
Resultados atingidos: realização da esquete denominada Entregar ou não o judeu que está em sua casa?
Bibliografia:
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e Outras Poéticas Políticas. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira S.A, 1991.
______________ 200 exercícios e jogos para o ator e o não-ator com vontade de dizer algo através do teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos costumes. Tradução de Paulo Quintela. Lisboa: edições 70, 2007.
SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Coleção os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.





ATIVIDADE DE ENCERRAMENTO DO CURSO INTRODUTÓRIO DE FILOSOFIA E TEATRO 

·       ATIVIDADE DE CRIAÇÃO DE MONÓLOGOS
Em teatro ou oratória, um monólogo é uma longa fala ou discurso pronunciado por uma única pessoa ou enunciador. O nome é composto pelos radicais gregos monos (um) + logos (palavra, ou idéia), por oposição a dia/diálogo (dois, ou através de) + logos.
Monólogo é a forma do discurso em que o personagem extravasa de maneira razoavelmente ordenada seus pensamentos e emoções, sem dirigir-se a um ouvinte específico.
No Monólogo é comum que os atores rebusquem pensamentos profundos psicologicamente, expondo idéias que podem até transparecer que há mais de um ator em cena, mas que no real exijam somente uma pessoa durante a cena. Enfim, monólogo está associado a um conflito psicológico que não necessariamente é individual.
§  É comum em teatro, desenhos animados, e filmes.
§  A palavra pode também ser aplicada a um poema no formato de pensamentos ou discurso individual.
§  Monólogos também são comuns em óperas, quando uma ária, recitação ou outra seção cantada, tem uma função similar a um monólogo falado numa peça teatral.
§  Monólogos são comumente encontrados na literatura de ficção do século XX.
§  Monólogos cômicos tornaram-se um elemento padrão em programas de entretenimento no palco ou televisão.
  • Agora que já sabemos o que é um monólogo, vamos criar nossos próprios monólogos?
  • Regras:
  • A criação do texto é individual, portanto, responsabilidade de cada ator-filósofo.
  • Escreva um monólogo de no mínimo 40 linhas.
  • É de extrema importância o conteúdo dos monólogos.
  • Procure sempre fazer conexões com os temas filosóficos abordados nas oficinas.
  • Perguntas norteadoras: Quem sou eu? Qual é o sentido da vida? Qual é a relação entre Filosofia e Teatro? O que é ser ético? Quais são os meus maiores sonhos? Quais são os meus maiores medos? Eu sou uma pessoa livre?
Coordenadores: Everton Nogueira e Lorena Miranda. (2º semestre de 2011)







REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO: 



BIOPOLÍTICA de Peter Pál Pelbart




"Del poder de soberanía al poder sobre la vida" en Genealogia del racismo. Madrid, La Piqueta, 1992. Pp.247-273. de Michel Foucault.(1976)


ORTEGA, Francisco. “Da ascese à bio-ascese ou do corpo submetido à submissão ao corpo”. In: RAGO, Margareth; ORLANDI,  Luiz  B.  Lacerda;  VEIGA-NETO,  Alfredo. Imagens  de  Foucault  e  Deleuze: ressonâncias nietzschianas. Rio de Janeiro: DP&A, 2005, p.139-173.




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